Falar sobre democracia nestes tempos pode ser fundamental para desmistificar certos aspectos que a sociedade erroneamente atribui a tal palavra. Inclusive em tempos que se tem dúvida sobre as atrocidades do Holocausto ou mesmo da ditadura em nosso país, ler e discutir sobre democracia é algo de suma importância. o livro “O que é democracia – Primeiros Passos” de Denis Lerrer Rosenfield é uma boa leitura sobre o tema.
Certamente o leitor perceberá que mesmo tendo sido publicado a mais de 20 anos (a primeira edição foi publicada em 1984 sob o título ‘A questão da democracia’), continua bastante atual.
Partindo de uma premissa bastante focada em esclarecer certos pontos cardeais em torno da democracia, o livro se traduz em um texto para leigos (claramente destinado a esse público), trazendo portanto, uma linguagem simples e de fácil compreensão.
A sinopse oficial informa:
Pensar a democracia tornou-se, no nosso século, uma questão vital para todos aqueles que se interessam pela construção de uma sociedade livre e justa. Num país que vive a experiência de manifestações políticas caracterizadas por exigências democráticas – exigência de um governo da maioria e de um governo regido por leis -, a democracia é mais do que nunca uma pergunta – e uma resposta – que diz respeito ao nosso futuro, futuro de homens livres e responsáveis. Denis L. Rosenfield mostra, em seu livro, como a democracia, no mundo moderno, terminou por confundir-se com o próprio destino da humanidade.
Já no início, o livro mostra o tom que o levará pelas demais páginas:
A democracia, no sentido etimológico da palavra, significa o “governo do povo”, o “governo da maioria”. Prevalece nessa primeira aproximação desse fenômeno político uma definição quantitativa. Basta lembrar que a democracia, na antiguidade grega, mais particularmente em Heródoto, é uma “forma de governo” entre duas outras: a monarquia ou “governo de um só” e a aristocracia ou “governo de alguns”.
O autor cita H. Arendt brilhantemente quando diz:
H. Arendt estabelece um bonito contraste entre o público, onde cada um é visto e ouvido, e o privado, lugar de recolhimento e de reflexão. É no movimento que leva de um a outro, saindo do “fundo opaco” do privado para a “visibilidade” do público ou, inversamente, retirando-se da luz pública para o descanso sem brilho do privado, este lugar que é tocado apenas por alguns raios de luz, que a liberdade pode realizar-se enquanto princípio de organização do social e do político.
Sobre a democracia moderna, o autor esclarece:
A democracia moderna tanto pode desembocar na tarefa de realização de novos direitos e de abertura de novos espaços como na burocratização de tudo aquilo que é coletivo, gerando novos privilégios sociais e fechando o político a novas possibilidades de ação política. O deciframento do político pode assim tornar-se um cálculo do social, tapando os poros através dos quais uma sociedade respira e impedindo a realização da liberdade.
Além disso, ele expõe que:
O regime político democrático tem como objetivo alçar o indivíduo da informe vida cotidiana moderna, desse isolamento no qual vive, ao lugar da comunidade, ao lugar da solidariedade, onde o que é político pode ser visto e vivido por todos.
Mesmo sendo um livro para leigos, sua leitura é bastante salutar e certamente vale a pena.
Denis Lerrer Rosenfield é escritor, professor universitário de filosofia, polemista e articulista de diversos jornais. Conta com livros e artigos acadêmicos publicados em português, francês e espanhol. Foi cofundador do Instituto Millenium. Nasceu em novembro de 1950 em Porto Alegre/RS.