Confesso que li poucas obras que carregavam tamanha profundidade em tantos temas distintos, bem como riqueza de detalhes como visto em “Homo Deus: Uma Breve História do Amanhã” de Yuval Noah Harari. Este autor israelense é historiador e professor da Universidade Hebraica de Jerusalém. Homo Deus foi publicado pela primeira vez em hebraico (ההיסטוריה של המחר) em 2015, pela editora Dvir.
Assim como o seu antecessor, Sapiens: Uma Breve História da Humanidade (que eu em breve lerei), o autor relata o curso da história ao descrever os acontecimentos diversos, a partir de inúmeras experiências humanas, adicionando a isso várias questões éticas em relação ao histórico de pesquisa do autor.
A obra é dividida em três partes: Parte I: O Homo Sapiens conquista o mundo, Parte II: O Homo Sapiens dá um significado ao mundo e Parte III: O Homo Sapiens perde o controle.
Yuval Noah Harari destaca as habilidades adquiridas pelos seres humanos – os Homo sapiens – ao longo de sua existência e evolução como a espécie dominante em nosso mundo. Entretanto, em um dos capítulos, o livro busca rascunhar uma imagem de nosso possível futuro, e nesse caminho, inúmeras questões filosóficas são debatidas e apresentadas, tais como o individualismo, as emoções humanas e consciência.
O autor sustenta que os organismos são algoritmos, e por isso, o homo sapiens pode não ser dominante em um universo onde o dataísmo torna-se o paradigma. Em diversos momentos fica evidente a visão do autor de que a evolução tecnológica tem ameaçado a continuação da capacidade dos seres humanos quanto a dar sentido às suas vidas e desta forma o autor sugere a possibilidade da substituição da humanidade por um modelo de ‘super-homem’, ou por assim dizer, o ‘Homo deus’ (deus humano), que seria dotado de habilidades, tais como a vida eterna.
No final do livro, o autor levanta três questões que devem (ou ao menos deveriam) nos levar a uma reflexão crítica de tudo que foi argumentado no decorrer da obra:
1) Será que os organismos são apenas algoritmos, e a vida apenas processamento de dados?
2) O que é mais valioso – a inteligência ou a consciência?
3) O que vai acontecer à sociedade, aos políticos e à vida cotidiana quando algoritmos não conscientes mas altamente inteligentes nos conhecerem melhor do que nós nos conhecemos?
Alguns trechos interessantes encontrados na obra:
“Toda cooperação humana em grande escala baseia-se em última análise na nossa crença em ordens imaginadas.”
“Se e quando programas de computador atingirem uma inteligência sobre-humana e um poder jamais visto, deveremos valorizar esses programas mais do que valorizamos os humanos? Seria aceitável, por exemplo, que uma inteligência artificial explorasse os humanos e até os matasse para contemplar as necessidades de seus próprios desejos? Se a resposta é negativa, a despeito da inteligência e do poder superiores, por que é ético que humanos explorem e matem porcos?”
“O problema crucial não é criar novos empregos. É criar novos empregos nos quais o desempenho dos humanos seja melhor que o dos algoritmos.”
“Hoje, muitos de nós já abrimos mão de nossa privacidade e individualidade, registramos cada uma de nossas ações, conduzimos nossa vida on-line e ficamos histéricos se nossa conexão com a rede se interrompe mesmo que por alguns minutos.”
“A internet de todas as coisas poderá em breve criar um fluxo de dados tão imenso e tão rápido que mesmo algoritmos humanos aprimorados não darão conta dele.”