Algumas reflexões apresentadas durante o documentário deveriam nos tirar da zona de conforto, tais como “Quem já viu uma propaganda que te convenceu que o seu microfone está ouvindo suas conversas? Todas as suas interações, as transações do cartão, pesquisas da web, localizações, curtidas, tudo isso é coletado em tempo real numa indústria trilionária” ou ainda “A razão por que a Google e o Facebook são as empresas mais poderosas do mundo se deve aos dados terem superado o valor do petróleo. É o bem mais valioso da terra”. Talvez aquela conhecida frase faça ainda mais sentido nestes tempos: “se você não está pagando para usar, é porque você é o produto”.
O documentário aborda o escândalo de vazamento de dados de usuários sob o ponto de vista de várias envolvidos e talvez o ponto de partida tenha sido através de David Carroll, professor associado da Parsons School of Design, de Nova York, que se empenhou em descobrir quais dados a Cambridge Analytica reuniu sobre ele. Além David, outra pessoa fundamental para a construção da narrativa proposta foi Brittany Kaiser, ex-diretora de desenvolvimento de negócios da Cambridge Analytica e que foi responsável por expor o que vinha sendo feito pela sua empresa. Kaiser foi inclusive questionada por legisladores do Reino Unido. Kaiser, antes de ingressar na Cambridge Analytica, trabalhou na campanha presidencial de Barack Obama. Outra importante peça nesse quebra-cabeças foi Carole Cadwalladr, jornalista investigativa do The Guardian, que também apresentou revelações a respeito do caso. Julian Wheatland, ex-diretor de operações da Cambridge Analytica também participou do documentário como um dos responsáveis por dizer a verdade sobre as operações da referida empresa, assim como Christopher Wylie, ex-funcionário da Cambridge Analytica e um dos primeiros a delatar a empresa.
Produzido e dirigido por Jehane Noujaim e Karim Amer, Privacidade Hackeada tem por objetivo lançar luz sobre questões que já estamos, de certo modo, acostumados a ver nos noticiários. Nossos dados estão lá nestas redes e nós mal sabemos o quanto de nós eles sabem. Talvez nos conheçam até melhor que nós mesmos. Entretanto algumas questões ficam para análise: como estes dados foram parar lá? Será que somos os responsáveis por alimentar essa grande máquina / nuvem de dados? E o mais importante: temos escolha?
