Ammonite

Muita gente tem o hábito de achar que romances entre pessoas do mesmo sexo é coisa recente. Não poderiam estar mais enganadas. Aliás, até onde se tem notícia, a homossexualidade fez parte da história das civilizações, passando por diversos continentes e, no caso da Europa, não seria diferente. Costumo dizer também que dentro da ciência, tais aspectos costumam ser irrelevantes, uma vez que basta que o profissional seja exemplar e desenvolva bem o que se propôs a realizar, não interessa muito se ela gosta de uma boneca, uma pedra ou mesmo uma pessoa. Sério, não faz diferença.

A sociedade deveria ser madura e adulta o suficiente para enxergar desta forma dado ao fato que o valor de cada um de nós está no bem que fazemos aos demais e não no seus gostos temos ou deixamos de ter. Dito isso, o romance entre duas mulheres não deveria soar estranho, mas soa, acredite. Ainda mais nos anos de 1840. Me arrisco a dizer que, dependendo da sociedade (e época) em que o cidadão estiver inserido, a percepção do certo ou errado muda. O que era crime, hoje deixou de ser e outras coisas que não eram permitidas, agora são. Polêmicas à parte, “Ammonite” é um bom exemplo de filme biográfico de drama que traz um romance homossexual lá nos anos de 1820. Sim, a mais de um século atrás.

Lançado em 2020, o longa foi escrito e dirigido por Francis Lee e é vagamente inspirado na vida da paleontóloga britânica Mary Anning, que aqui é interpretada por Kate Winslet. O enredo gira em torno de uma especulativa relação romântica entre Anning e Charlotte Murchison, interpretada por Saoirse Ronan.

Delicado ao tratar do tema e ao mesmo tempo sábio ao usar o silêncio, o som ambiente e diversas tomadas longas, Ammonite consegue ser meigo e doce. Digo isso mesmo ciente das diversas cenas picantes e certamente poderão causar desconforto em quem considera tal tipo de relação algo ‘diferente’. O aspecto histórico da região, somado a belíssimas imagens fazem do filme um achado que merece ser ‘descoberto’.

A história de Ammonite se passa no ano de 1820, Reino Unido. Acompanhamos o romance entre a paleontóloga Mary Anning (Kate Winslet), que faz importantes descobertas científicas de fósseis marinhos de amonite (um tipo de molusco), ao longo do Canal da Mancha, e a jovem londrina Charlotte Murchison (Saoirse Ronan), que vive junto ao mar enquanto sua saúde se recupera.

Ousado, sem ser vulgar, a relação de duas mulheres aqui é tratada com cuidado e zelo, sem os exageros que muitas obras empregam.

O elenco traz Kate Winslet, Saoirse Ronan, Fiona Shaw, Alec Secăreanu, James McArdle, Gemma Jones e Claire Rushbrook. O longa é uma coprodução Reino Unido / Austrália. O trailer pode ser visto aqui.